Teatro Parabelo provoca reflexões no 20 de novembro
Açoites. Caixotes. Trem negreiro. Trabalho. Escravidão moderna. Negro. Pobre. Periferia. Perversidade. Insanidade na cidade das oportunidades. O grupo Teatro Parabelo - sempre contundente em seus espetáculos - saiu da estação da Luz no último sábado (20/11), Dia da Consciência Negra, sentido Francisco Morato. Os caixotes de feira na cabeça - cada um com palavras que formavam uma frase - denotavam o impacto causado em cada um dos passageiros. A experiência gerou muitos comentários, desconfortos, olhares de esguelha, risos incompreendidos. Enquanto isso, a CPTM enviava o seu aparato de segurança para o vagão ocupado pelos parabelos - que não disseram uma palavra sequer durante o trajeto -, e uma voz no alto-falante alertava: "Senhores passageiros, esse vagão está sendo filmado para sua segurança".
Mas de qual segurança eles estavam falando? A de alimentar diariamente o sistema capitalista, que transporta seus subordinados em latas de sardinha travestidas de transporte público? A segurança de comprar, comprar e comprar? A segurança e a liberdade de escolher entre a marca A, B ou C? A segurança de ter a aparência de acordo com os padrões globais da indústria da beleza?
Esses e muitos outros temas foram investigados pelo espetáculo Post Mucamba, no Ponto de Cultura Quilombaque, em Perus, onde o Parabelo desembarcou do trem com seus caixotes utilizados na intervenção na escadaria da estação, onde a NEGRA foi acorrentada e o público teve que tomar a iniciativa e libertá-la. Nos caixotes, a frase: "A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRA".
Revelando o nu do corpo humano e feminino em algumas cenas, o grupo provocou questionamentos profundos e deixou que o dedo ficasse em riste não só na cara do público, mas também dos próprios parabelos. O batuque do tambor fez todos sentirem a presença essencial das raízes africanas, uma das culturas predominantes no país, mas que recebe apenas um dia em que se comemora a Consciência Negra, a mesma que devia ser debatida todos os dias, sem descanso, para reparar os danos provocados aos negros - danos estes que hoje estendem-se aos periféricos - durante tantos anos.
O clima de festa da cena final do espetáculo - com direito a cerveja e churrasquinho preparado em grelhas posicionadas em cima do corpo da negra violentada e estigmatizada na Sociedade do Espetáculo - fez uma crítica contumaz à cultura de massa, que utiliza a imagem da mulher negra apenas do ponto de vista sexual. Para demonstrar isso, o grupo usou músicas de axé, samba-rock e outras que revelam o caráter preconceituoso em relação a mulher ("Tira a calça jeans, bota o fio dental, morena você é tão sensual").
Ao final da intervenção-espetáculo um roda foi formada na rua mesmo, em frente à Quilombaque. O público participou do debate com pontos de vista e opiniões diversas, e a discussão não ficou apenas voltada para a questão do negro hoje, mas também como as resistências a todo sistema de opressão estão sendo articuladas e sustentadas.
Mais uma vez, o espaço Quilombaque recebeu uma impactante intervenção do Teatro Parabelo. Quem perdeu, aguarde as próximas atividades do grupo. Confira as fotos de "Post Mucamba" abaixo.
Texto: Silvio Luz
Fotos: Cris Suzarte
3 comentários:
Gostei muito do texto e lamentei não ter visto teatro de tamanha qualidade. São grupos assim que questionam a sociedade e, como queria Brecht, provoca o público e o tira de sua zona de conforto. Parabéns, Parabelo! E me convidem para os próximos espetáculos!
do caraio hein! intervençãozona!
linda roda na cambaratiba até rubinho participando...
Nudes e arte? Eu conheço como "falta de vegonhve na cara"
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