terça-feira, 16 de junho de 2009

Memória Quilombaque

Material relembra história e eventos da Comunidade

Os textos, programações, eventos e iniciativas da Comunidade Cultural Quilombaque listados abaixo fazem parte do que produzimos nos últimos anos, desde 2005. Confira:

PROJETO PINÓQUIO


O Projeto Pinóquio, desenvolvido junto à Comunidade Cultural Quilombaque, é formado por artesãos de Perus, bairro da periferia de São Paulo. Os artesãos produzem arte construindo coisas com sobras de madeira (marchetaria).

O QUE É MARCHETARIA?

A marchetaria é a arte de ornamentar superfícies planas de móveis, painéis, pisos e tetos, através do uso de sua principal matéria-prima: a madeira reaproveitável. Com a diversidade de uso dessa arte, pode-se construir objetos tridimensionais, esculturas, utilitários, jóias etc.

Com ênfase em design, o projeto valoriza a produção artesanal em que esteja envolvida, principalmente, a cultura. O respeito ao meio ambiente é fundamental para a beleza da técnica, que dá possibilidade de geração de renda a pequenos produtores.

Legenda: Fotografia de um objeto produzido pelo projeto. Participantes: Clébio Ferreira, Cleiton Ferreira, Douglas Liuds, Janice Albuquerque.


FANZINE: O poder de um ícone

As marcas são parte de um discurso moderno mais amplo sobre a busca desesperada por felicidade e alegria, prometendo gratificação imediata e prazer.

Do marketing do produto ao marketing da idéia, mais do que nunca, as marcas precisam procurar significados, e a melhor maneira é através de ídolos de gêneros musicais, esportivos, astros cinematográficos etc. Usando a imagem de alguns ídolos, as marcas fazem a promessa de que, se adquirido tal produto, este o tornará tão bom quanto eles.

Cada vez mais nos encontramos citados por slogans de propagandas que nos comunicam ordens, valores e ideologias. O impacto das marcas está se excedendo do simples fato de comprar. O que as marcas nos oferecem pode ser descrito como algo pronto para pensar, como aquelas propagandas de cigarros que citam sensações de prazer.

É complicado notar como propagandas se apropriam de certos valores, e transformam certas marcas em conceito de vida, como filosofia e religião, e se apresentam como substitutos.
As buscas pelas marcas não são dadas só pelo conforto ou qualidade. Na verdade, as pessoas querem um sentido a mais, uma auto-seleção, ponto de referência e alimento espiritual.
Sendo que uma pessoa possa ficar, em média, seis horas por dia em frente a uma TV, fora outros meios de comunicações como rádio, revistas, jornais, outdoor etc, juntando tudo, a exposição das marcas e suas propagandas é maciça.

Se prestarmos a atenção ao nosso redor, e à nossa cultura, veremos que tudo está basicamente privatizado, incluindo idéias e formas de vida, dando a parecer que as marcas têm impacto muito maior que idéias.

Não que tenhamos que viver em uma sociedade em preto e branco, sem símbolos; mas temos que ter noção de que estes ícones são os primeiros e principais provedores de significados, e provedores dominantes; e, para um progresso amplo, a comunicação é o fator mais influente.
E se a alternativa de uma sociedade é uma sociedade sem marcas, significa que estaremos numa sociedade sem opiniões e sem visões opostas, na qual podemos ter um produto de cada uma das marcas, o que tornaria uma sociedade sem liberdade, equilíbrio e, ainda, totalitária.

Mas, afinal, o que nos falta como sociedade, que temos que buscar nas marcas para nos preenchermos?

Douglas Santos (Buzzy Liuds)
Membro da Comunidade Cultural Quilombaque

*A opinião aqui exposta é de responsabilidade do autor. A Comunidade Cultural Quilombaque abre espaço para outras opiniões, se consistentes e construtivas.
*O fanzine "CHEGA DE PALHAÇADA" (2007) é uma produção independente da Comunidade Cultural Quilombaque. A seção "Fanzine" reproduzirá os textos dessa produção.

FANZINE: Qual é a sua cara?

A questão de identidade, atualmente, é das mais complexas em nossa realidade, pois muitos reprimem o seu “eu”. Em verdade, são forçados a perder a noção de sua real identificação e, a todo momento, a representar muitos diferentes papéis sociais, para que, assim, possam se enquadrar na organização manipuladora da sociedade, pois a não participação da construção da sua realidade faz que sua imagem não apareça, tornando-se, assim, sua presença alienada.

Essa imposição alienante da realidade social os leva a buscar meios para a diminuição do medo de serem aceitos, e a buscar, em um estado insignificante de massificação, proteção em outra forma de identificação mais poderosa. Assim, uns querem ser ou o “Che” Guevara, ou o jogador Beckhan; outros querem ser ou a mocinha da novela das oito, ou o traficante poderoso da quebrada; ou, até mesmo, os pastores que colocam Deus como proteção para tudo. Assim, muitos vão perdendo, cada vez mais, a sua identidade.

Enfim, essa realidade impõe uma falsa identidade para um “eu” reprimido, mostrando qual o discurso que todos têm de assumir para não ter uma imagem de incapaz julgada. Porque o maior medo de todos é a pergunta “quem é você?”. E, para se protegerem dessa maldita pergunta, se disfarçam para não se mostrarem verdadeiramente. E, nessa representação da vida, saberão todos, realmente, qual é a sua identidade?

Cleiton Ferreira (Fofão) Membro da Comunidade Cultural Quilombaque

*A opinião aqui exposta é de responsabilidade do autor. A Comunidade Cultural Quilombaque abre espaço para outras opiniões, se consistentes e construtivas.
* O fanzine "CHEGA DE PALHAÇADA" (2007) é uma produção independente da Comunidade Cultural Quilombaque. A seção "Fanzine" reproduzirá os textos dessa produção.

FANZINE: Auto-reflexão

Resgate cultural. Será que todos nós sabemos o verdadeiro sentido de cultura? Parece que não. Como resgatar algo que mal sabemos o que significa? Talvez a proposta ideal não seja resgatar a cultura e, sim, trabalhar a idéia de que todos nós colaboramos culturalmente uns com os outros; afinal, tudo o que nós, seres humanos, produzimos por meio do aprendizado é cultura.

Nossa cultura é construída, sem dúvida, por tudo aquilo que absorvemos desde o dia em que nascemos. Somos uma colcha de retalhos que nunca deixará de ser tecida. Seria muita pretensão dizer que pretendemos resgatar a cultura porque esta é uma maneira de desvalorizar o repertório cultural dos demais indivíduos.

Na verdade, o que falta é o autoconhecimento, muitos não sabem do potencial cultural que têm. A cultura não é algo que pode ser “despertado” em alguém; ela é intrínseca ao ser humano, existe desde que “nós somos gente” e, por isso, somos uma mescla, um combinado de influências que agem sobre nós, mesmo que imperceptivelmente.

Impossível que Perus, um bairro da cidade de São Paulo que tem cerca 140 mil habitantes seja carente de cultura; mesmo que tivesse 10 habitantes não o seria. O que falta é estímulo, é fazer as pessoas perceberem o potencial que têm e tudo aquilo que elas podem fazer. Por isso, acho errônea a idéia de resgate cultural porque só seria um resgate se todos tivessem ciência de que algo foi perdido ou deixado para trás. Infelizmente, sabemos que não é assim que funciona, já que muitas pessoas, devido às adversidades da vida, não têm tempo de praticar uma auto-reflexão, ou seja, elas não se conhecem. Então como cobrar um conceito, como o de cultura, delas?

Despertar o olhar crítico talvez não seja a solução adequada, mas uma opção. Então, como aguçar esse olhar? Palestras cheias de conceitos não resolvem o problema, com certeza. Palestras que discutam o cotidiano das pessoas podem ser interessantes, pois o que interessa é fazer as pessoas se sentirem familiarizadas, e não inferiorizadas.

Perus, com certeza, não é o paraíso que desejamos, mas também não é o inferno que vemos. Talvez nossos olhares sejam precipitados e decepcionados devido à falta de incentivo. Olhar de dó não vale a pena. Continuo achando que falta auto-reflexão.

Sheila Moreira Jornalista e colaboradora do fanzine CHEGA DE PALHAÇADA

*A opinião aqui exposta é de responsabilidade do autor. A Comunidade Cultural Quilombaque abre espaço para outras opiniões, se consistentes e construtivas.
*O fanzine "CHEGA DE PALHAÇADA" (2007) é uma produção independente da Comunidade Cultural Quilombaque. A seção "Fanzine" reproduzirá os textos dessa produção.

PROGRAMAÇÃO JULHO/2007

CINEQUILOMBO
SESSÃO DE FILMES ALTERNATIVOS QUE NÃO PASSAM NA TV!
Todas as Quintas-Feiras, às 19h

DIA 05/07 - QUANTO VALE OU É POR QUILO
Documentário, Brasil, 2005, 104 min. Direção: Sergio Bianchi.
Um paralelo entre a vida no período da escravidão e a sociedade brasileira atual, focalizando as semelhanças no comportamento "mercadológico" das duas épocas.

DIA 12/07 - ADEUS LÊNIN!
Drama, Alemanha, 2004, 121 min. Direção: Wolfgang Becker.
Um filho dedicado que tem sua mãe em coma quando o muro de Berlim cai. Ela acorda depois de 8 meses em coma sem poder sofrer qualquer tipo de emoção. Desesperado e criativo, ele faz de tudo para não mostrar para a mãe a situação do país.

DIA 19/07 - SURPLUS
Documentário, Suécia, 2003, 52 min. Direção: John Zirzan.
Uma intensa odisséia visual filmada ao longo de três anos em oito países, Surplus explora a natureza destrutiva da sociedade de consumo.

DIA 26/07 - O PRISIONEIRO DA GRADE DE FERRO
Documentário, Brasil, 2003, 123 min. Direção: Paulo Sacramento.
Um ano antes da desativação da casa de detenção do Carandiru, detentos aprendem a usar câmeras de vídeo e documentam o cotidiano do maior presídio da América Latina.

DOCUMENTÁRIOS/FILMES
Sábado, às 17h

DIA 07/07: RÉQUIEM PARA UM SONHO
E.U.A, 2000, 102 min. Direção: Darren Aronofsky.
Conta a perturbação e histórias de personagens que se envolvem com seus sonhos e vícios.
Mediador do debate: Clébio Ferreira (Dêde)

Dia 28/07: MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE
Inglaterra, 1993, 30 min. Direção: Simon Hartag.
O documentário discute o poder sombrio da rede Globo, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro.
Mediador do debate: Fuga

PALESTRA
Dia 21/07: "MST, e as lutas pela Reforma Agrária”
Palestrante: Prof° Odair

CURSOS E OFICINAS
CURSO DE LIBRAS - Linguagem brasileira de sinais
OFICINA DE MARCHETARIA - técnica de revestimento com folhas de madeira.
Todos os sábados das 13 às 15h

Evento Cultural ÁFRICA-BRASIL (2007)

29/07 as 16:00hs entrada franca

AFRICA-BRASIL
A nossa verdadeira Origem

AZAIEL - reggae
DJEMBEKAN- O som do djembê
BRUNO BRASIL - MPB
GRUPO PANDORA - teatro
CAOS DO SUBÚRBIO - rap
BALLET AFRO KOTEBAN - dança afro

EXPOSIÇÃO: SELOS AFRICANOS - casa das Áfricas

ARTE VISUAL , COMIDAS, EDUCAÇÃO AMBIENTAL, POESIA E MUITO MAIS...

Rua José Correa Picanço nº 595, Perus (antiga sede)
tel: 3918-8259
email: quilombaque@gmail.com


SARAU DO GATO (2007)


A Comunidade Cultural Quilombaque abre as portas para mais um evento em sua sede. É o Sarau do Gato, preparado pelo grupo Ciameses de Teatro.

O tema do sarau é "Ritual: a arte é um ritual, o ritual é uma arte".

O evento está aberto à toda comunidade. Então, traga sua poesia ou seu texto, ou textos de outros autores, e troque idéias e leituras conosco.

Quando?
Dia 08 de dezembro às 18 horas.
Onde?
Na sede da Comunidade, na Rua José Correia Picanço, 595, Perus. (antiga sede)

Contamos com a presença de todos. Até lá!

Sarau do Gato é marcado pelo clima contagiante da arte

Não precisa nem ser dito. Ou melhor, não precisou. Através dos olhares trocados entre os presentes no Sarau do Gato realizado na Comunidade Cultural Quilombaque em Perus, ficou perceptível o clima criado que deixou todos à vontade para mostrar sua arte por meio dos rituais.

“Ritual: a arte é um ritual, o ritual é uma arte” foi o tema do Sarau, produzido pelo Cia.Meses de Teatro, que levou para Perus a oportunidade dos moradores entrarem em contato com novas possibilidades artísticas, em um espaço aberto à todos aqueles que quisessem compartilhar de alguma forma as suas artes. Esse já foi o quarto Sarau do Gato realizado pelo Cia.Meses e o primeiro na Comunidade Quilombaque.

Uma prova de que uma aura de abertura de pensamentos e sensações foi conseguida são os depoimentos dos organizadores e participantes do Sarau. Não há prova melhor e mais legítima. Por todo lugar que se olhava naquela garagem transformada em sede da Quilombaque foi possível perceber a essência e a emoção presente em cada corpo naqueles momentos de troca, comunhão e exaltação da cultura.

Monólogos, peças teatrais diversas, percussão, cirandas, oferendas. Enfim, todas as apresentações sem exceção contribuíram para o sucesso do Sarau do Gato e agregaram maiores percepções para os rituais nossos de cada dia.

Sarau do Gato na Quilombaque, uma noite para ficar na memória de todos os que estavam presentes e que acreditam na transformação – seja ela qual for – através da arte, da cultura, da representação de nossa história e da busca de nossa identidade cultural. (2007)

[Silvio Luz] Foto: Fofão

Retrospectiva Quilombaque 2007


2007. Ano em que a Comunidade Cultural Quilombaque firmou o pé de vez em Perus e transformou um pouco mais o cenário socio-cultural do bairro periférico e com poucas alternativas de lazer.

Muitas oficinas foram iniciadas e muitos projetos foram postos em prática. Percussão, libras, marchetaria, jogos teatrais, artes circenses. Cada uma delas foi fundamental para a consolidação da ideologia presente nas mentes dos fundadores da Quilombaque.

Visto de dentro para fora, fica a impressão de que muita coisa foi feita, mas a certeza que se agiganta cada vez mais é que a missão foi iniciada, que ainda há muita coisa por fazer e que este é um caminho sem volta. E, com cada vez mais visibilidade dentro do bairro e até fora dele, o nome e a essência da Comunidade Cultural Quilombaque estão cada vez mais fortes, o que faz os seus fundadores continuar acreditando no projeto e abrindo espaço para todos os que querem colaborar de alguma forma com o propósito de levar cultura, informação e consciência para a periferia.

Como reflexo de todo o avanço alcançado em 2007 foi iniciado o processo de viabilização da Comunidade Cultural Quilombaque, que terá um registro como pessoa jurídica. Com isso, a Quilombaque dará mais um passo à frente em busca da organização oficial, visto que a estrutura física já está bem sedimentada.

De todas as oficinas postas em prática neste ano, a de percussão foi a que proporcionou maior visibilidade à Quilombaque e às suas idéias. Não porque seja a melhor oficina organizada pela Comunidade, mas pelo fato de estar mais perto da população carente do bairro de Perus, que aos domingos ficava em casa sem muitas opções. Depois de iniciada a oficina, qualquer um que passasse no entorno da escola Jairo de Almeida, no Recanto dos Humildes, poderia conferir as aulas, aprender o ritmo ensinado no dia ou simplesmente assistir.

Finalizadas na primeira quinzena de dezembro, todas as oficinas sem exceção são a prova do fortalecimento da Comunidade Quilombaque e da aproximação efetiva dos moradores de Perus. Os desafios ainda são muitos, pois ainda há muita gente para ser conquistada e conscientizada. Sim, porque querendo ou não, a Quilombaque conquista cada vez mais adeptos para perto de si, sejam participantes de oficinas e cursos, sejam pessoas dispostas a coordenar e desenvolver essas oficinas, sejam, por fim, os parceiros que acreditam nesses projetos.

Além das oficinas já consolidadas e com espaços garantidos, a Quilombaque também realizou eventos e palestras de cunho cultural e educativo. Como eventos tivemos o África-Brasil, que foi composto – entre outros elementos – pela dança afro do Koteban, por tambores africanos, apresentação teatral e manifestações do hip hop e o Super 10, evento que uniu basquete e hip hop. É pertinente incluir também no rol de eventos os cortejos e apresentações do grupo Refúgio, resultado da oficina de percussão. As palestras ficaram por conta do professor Billy, que envolveu os participantes em um debate sobre a questão do negro na sociedade de hoje, e o professor Odair, que falou sobre o MST e as lutas por reforma agrária. Seguindo na descrição das realizações culturais desse ano, não podemos deixar de citar as sessões abertas ao público do CineQuilombo, com filmes e documentários conscientizadores, e o funzine “Chega de Palhaçada”, produzido e distribuído para a comunidade com discussões sobre identidade cultural, propaganda alienante e o significado da palavra cultura. E por fim, tivemos o Sarau do Gato, produzido pelo Cia.Meses de Teatro, que abriu espaço para diversas manifestações artísticas como teatro, música e ciranda.

Mesmo que o processo de legalização não esteja finalizado, a Comunidade Cultural Quilombaque mostra a cada iniciativa e oficina desenvolvida a sua vontade de continuar difundindo cultura e arte no bairro de Perus, abrindo assim novos horizontes para seus moradores, que são os agentes de qualquer mudança pretendida. A mudança efetiva e profunda não se dará com iniciativas localizadas, que não visem incorporar todos os elementos interessados na transformação da realidade. E é exatamente o contrário disso que a Quilombaque busca desde o seu início, em 2005. Agregando cada vez mais voluntários, amigos e parceiros, a Quilombaque aumenta ano após ano a rede de agentes da transformação social, política e cultural.

[Silvio Luz]

Programação Março/2008

Confira a programação que a Quilombaque preparou para março, mês voltado para a Mulher!

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