sexta-feira, 14 de maio de 2010

13 de maio é todo dia!

Teatro Parabelo questiona libertação dos escravos


A data 13 de maio - desconhecida por muitos - passou mais uma vez. Em branco. Em preto. Em reflexão sobre as nossas atitudes diárias que, mesmo imperceptíveis, contribuem, e muito, para que o vil preconceito continue encarnado e entranhado nas nossas relações e nos espaços que ocupamos. Para lembrar a data e provocar análises sobre a Abolição da Escravatura no Brasil (Lei Áurea, de 13 de maio de 1888), o Teatro Parabelo escolheu o quilombo urbano chamado Perus para realizar a intervenção "Post-Mucamba", mais um trabalho de impacto do grupo, que preza pelo despertar de questionamentos e provocação.


A intervenção começou pouco depois das 20h na escadaria da estação de trem Perus, no momento em que as escravas lavavam a escadaria com suas bacias banhadas de sangue, enquanto que a Princesa Isabel acenava para todos de sua cadeira de rodas. O estranhamento do público era inevitável. Provavelmente muitos pensaram que a ação fosse alguma espécie de macumba (mais um preconceito enraizada no nosso país). Uma das escravas acorrentadas a uma forca foi simbolicamente liberta pela "bondosa" princesa.


A cena continuou na entrada da Travessa Cambaratiba, onde foi colocada uma urna para que todos depositassem suas cartas de alforria. Até os policiais que estavam logo ao lado, na Praça Inácio Dias, foram convidados a assinar, sem sucesso. Ao som da música Black or White, de Michael Jackson, a intervenção prosseguiu questionando o processo de embranquecimento do nosso povo, até chegar no espaço da Comunidade Cultural Quilombaque, onde imagens eram projetadas num telão, enquanto a escrava recém liberta e agora "embranquecida" continuava a demonstrar que não estava livre coisa nenhuma, que continuava amarrada e presa pelo consumismo, pela cultura de massa, pelo capitalismo.


Ao final da intervenção, o grupo Parabelo chamou todos - inclusive crianças que assistiram à intervenção - para um bate-papo construtivo sobre a encenação reflexiva sobre o dia 13 de maio. Incrível perceber como cada um saiu desta experiência com uma ou outra indagação, que, com certeza, vai interferir nas ações, atitudes e olhares no dia-a-dia.

Texto e fotos: Silvio Luz

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